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Veterano de Guerra na Segurança do Trabalho

Passaram-se os dias, semanas e meses e o máximo que acontecia era receber a visita do Técnico de Segurança do Trabalho, mas ele era bem caladão. Só teve uma vez que ele disse que eu estava ótimo. Na verdade, ainda tenho dúvidas se foi comigo ou com o trabalhador que passava no momento.

Finalmente, se não me engano, pois já estou com a memória fraca, depois de quase um ano, fui levado para fazer uma reciclagem e voltei com todo gás pensando: Agora, vai! Não iam investir em mim para não fazer nada.

Foi aí que eu percebi que não havia mudado nada, voltei para o mesmo lugar, sem ninguém utilizar de todo o meu potencial. Já estava entrando em depressão, achando que a minha vida ia ser só uma monotonia diária.

Mas foi aí que tudo aconteceu. Era mais um dia de marasmo quando ouço o alarme tocar, percebi que era o momento, eu iria agir.

O brigadista passou e eu fui junto com ele. O fogo havia começado e eu percebi que só a gente iria resolver a situação. E quando eu já estava completamente esgotado o fogo foi finalmente debelado, e mesmo sem saber se iria voltar a trabalhar, percebi que toda a espera havia valido a pena, uma sensação de missão cumprida.

Ao final o TST me leva para outro posto e lá junto com outros colegas extintores percebi ser o único que já havia participado de uma verdadeira batalha, os outros só haviam participado de simulados em treinamentos de brigada de incêndio.

E com orgulho, contava para todos, o dia da minha ação, desde o lacre rompido até o apagar das chamas. Com o tempo, mais maduro, orientava os novatos que o ideal seria que eu nunca precisasse ter agido, que o nosso verdadeiro objetivo é permanecer alerta, porém com a esperança de nunca ser acionado para um sinistro, assim como um brigadista, um bombeiro ou um profissional de Segurança do Trabalho.

Na semana passada não passei no teste hidrostático e fui vendido para um ferro velho e hoje espero ser reciclado para permanecer útil à sociedade.

No entanto, para ser sincero e vestido vergonhosamente de um sentimento egoísta, mesmo no meio da sucata os dias passam mais rápido, pois sei que tenho as memórias de um veterano de guerra.

Autor: Mário Sobral Júnior – Engenheiro de Segurança do Trabalho

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