ACIDENTE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Hoje atuo exclusivamente como Engenheiro de Segurança do Trabalho, mas como tenho a formação de Engenheiro Civil “toquei” diversas obras no início da minha carreira profissional e agora consigo entender a frequência elevada de acidentes na Construção Civil. Sempre escutamos que os problemas são decorrentes da baixa instrução da mão de obra, dos diversos riscos presentes e por haver uma mudança contínua das atividades.
Concordo com todos estes fatores, mas tem um que geralmente é deixado de lado. Na época de “tocador” de obra lembro que as situações de maior risco ocorriam invariavelmente devido a atrasos na produção.
Em geral, a novela sempre era a mesma, a obra começava um pouco mais lenta e com poucos trabalhadores, depois de algum tempo entrava no ritmo ideal. No entanto, em geral, já havia um atraso no cronograma que não era possível eliminar mesmo “entupindo” a obra com operários. Isto ocorre porque, como em qualquer projeto, há uma necessidade de uma sequência construtiva. Por exemplo, não tem como a equipe de cobertura entrar se a estrutura ainda não está pronta.
Neste ponto da obra começa a haver a pressão do cliente que é repassada para a direção até chegar ao trabalhador.
Não necessariamente os acidentes ocorriam, mas em geral era o momento em que todo mundo era mais complacente com situações de risco tendo por argumento a sobrevivência da empresa que precisa entregar a obra no prazo custe o que custar. Perceba que o problema tem forte influência organizacional, ou seja, temos diversos fatores que são os potenciais geradores dos acidentes na construção civil, mas um que precisa ser bem acompanhado é a capacidade de gerenciamento.
Mário Sobral Júnior – Engenheiro de Segurança do Trabalho (Jornal Segurito 105)