Dá para reconhecer o perigo pelo cheiro?
Na percepção da maioria dos trabalhadores a toxicidade dos produtos químicos está muito relacionada com o odor no ambiente de trabalho.
Com certeza, professor. Aqui na empresa iniciou um novo processo com um produto muito fedorento e os trabalhadores já começaram a falar em insalubridade, porém fui perguntar para o químico responsável e ele disse que este produto é bem tolerado pelo ser humano e completou dizendo que o problema da empresa era um outro produto que tem um odor até agradável, parece suco de laranja e mesmo sendo um solvente bem mais tóxico, os trabalhadores nunca reclamaram.

Meu filho, o pior é quando o produto é extremamente perigoso e é inodoro, ou seja, não tem cheiro, como por exemplo o gás de cozinha ao qual é acrescentado mercaptano para servir de alerta aos usuários em caso de vazamento.
Professor, mas tem até tabela de limiar de odor. Não devemos utilizá-las?
Não deve ser nosso único e principal método de identificação, primeiro porque há uma grande variabilidade na percepção, os valores tabelados são apenas uma referência. Além disso, alguns produtos, após uma exposição prolongada anestesiam o olfato, como por exemplo a metil-etil-cetona que a princípio teria o limiar de odor de 0,27 ppm.
Por fim, alguns produtos têm o limiar de odor superior ao limite de tolerância, por exemplo o óxido de etileno tem o limiar de odor de 851 ppm, mas o seu limte de tolerância é de 39 ppm na NR 15 e se formos utilizar como referência a ACGIH não passa de 1 ppm.
Ou seja, você pode utilizar estes valores como uma forma de identificar um vazamento, mas não é um controle eficiente, principalmente se o produto é de alto risco para os trabalhadores.
Autor: Mário Sobral Júnior – Engenheiro de Segurança do Trabalho